quarta-feira, 13 de maio de 2009

Piquenique

Compartilho com vocês minha incursão pela literatura infantil.


Dia ensolarado!
Farelos na toalha quadriculada.
Formiguinhas apressadas,
preparando o piquenique.
E lá vão elas,
carregando para o jardim,
quitutes de domingo.

Será que me convidam?

(Iêda Lima - 2009)


Imagem obtida do clipart do powerpoint.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Luís Serguilha

O poeta português Luís Serguilha estará visitando o Brasil no mês de junho. Participa do SIMPOESIA II – encontro pan-americano de poesia, em São Paulo, de 02 a 07. Em seguida, estará em Belo Horizonte nos dias 08 a 10, onde fará leituras e participará de debates e eventos na UFMG. Seu destino final é o Rio de Janeiro para evento literário e leituras – debates na UFRJ.

Luís Serguilha é poeta e ensaísta, nascido em Vila Nova de Famalicão, Portugal. Publicou no Brasil os livros: As processionárias (2008), e Roberto Piva e Francisco dos Santos: na sacralidade do deserto, na autofagia idiomática-pictórica, no êxtase místico e na violenta condição humana (2008). Em edição portuguesa encontramos as obras: O périplo do cacho (1998), O outro (1999), Lorosa´e Boca de Sândalo (2001), O externo tatuado da visão (2002), O murmúrio livre do pássaro (2003), Embarcações (2004), A singradura do capinador (2005), Hangares do Vendaval (2007). Seu livro de prosa intitula-se Entre nós, de 2000, ano em que recebeu o Prémio de Literatura Poeta Júlio Brandão. Participou em vários encontros internacionais de literatura e possui textos publicados em diversas revistas de literatura no Brasil e em Portugal, além de outros trabalhos traduzidos em língua espanhola e catalão. Coordena uma coleção de Poesia contemporânea Brasileira na prestigiada Editora COSMORAMA.

Compartilho com vocês um dos textos que o poeta me enviou. Veja mais sobre a poesia dele aqui, aqui e aqui comentário de Jorge Luís Antonio sobre o livro Hangares do Vendaval.

sábado, 18 de abril de 2009

Blogagem Coletiva - Quem foi seu Monteiro Lobato?

Vanessa, do blog Fio de Ariadne, convidou a participar da blogagem coletiva em homenagem ao dia do livro. Ela nos questiona sobre como formar leitores, e quer saber quem – em nossa vida – incentivou o nosso amor pela leitura, quem foi nosso Monteiro Lobato.


Não sei qual foi o pontapé inicial de tudo. Talvez ver meu pai ler todos os dias tenha feito com que eu, aos três anos, me interessasse em inventar estórias a partir das figuras das revistas em quadrinhos. Estórias que eu contava para meus irmãos e meu pais. E lá fui eu para escola aprender a ler. Desde então, durante a minha infância, meu pai frequentemente me presenteava com livros. Ele foi meu Monteiro Lobato. E de Lobato foram alguns desses livros. Eu era apaixonada pelo Sitio do Picapau Amarelo e seus personagens. Foi uma porta para o universo fantástico ali ao lado – com personagens que aprendi no folclore nacional, como o saci, a cuca, o boitatá, o curupira; com sabugo de milho virando Visconde... Não teria mais que cruzar uma floresta distante em busca de fadas e castelos. Era só abrir a porta.

terça-feira, 14 de abril de 2009

O Bode


Era um barulho infernal, desses meio surdo, repetitivo, constante. Invadiu os meus sonhos e me tirou de lá, despertando minha manhã antes do relógio. Entrava por baixo da nuca, pelos ouvidos, executando algum tipo de vibração que causava erupções entre os neurônios. Nada de deliciosas sinapses, embaladas pela harmonia. Apenas a monotonia ensurdecedora. Nada da improvisação do jazz. Somente o tédio limpando o rejunte entre as lajotas. O chão já estava quase mudando de cor, tornando-se um bege esbranquiçado, com manchas que à distância pareciam nódoas circulares causando brotoejas no piso. A manhã avançava. Coloquei The Doors para tocar na esperança de abafar o ruído. “People are strange...”. Era o terceiro dia em que a máquina trabalhava à toda. Não conseguia entender qual era a expectativa de ainda limpar aquele chão. Consegui escapar das outras vezes, mas desta, não teve jeito. Fui à janela admirar a azáfama no quintal do vizinho. A dona dava ordens à empregada e ao ajudante, que esfregavam o chão com vassouras enquanto ela perseguia as bactérias com o jato dágua superpotente. No lado de cá, Jim continuava acendendo meu fogo e me dava alguma folga para a minha mente funcionar. A máquina parou para almoçar. Tive uma falsa alegria. O zunido voltou a encher o ar, ficando ali intermitente e uma oitava mais baixo o resto da tarde; quando finalmente reinou o silêncio... Ah, o silêncio!! Uma maravilha pontuada apenas por aqueles barulhinhos familiares que nos indicam que o mundo está vivo e girando – um carro que passa ao longe, uma porta que bate, um passarinho, alguém que acabou de entrar no prédio... e o espaço, e a amplidão que o silêncio traz. O bode saiu.

(Agora, algum louco, na certa chapado, grita em todas as variações possíveis o nome desta cidade. É até musical, o danado.)

(Iêda Lima)


Imagem obtida do clipart do powerpoint.

segunda-feira, 30 de março de 2009

A cidade de ontem



A cidade de ontem sob camadas e camadas da cidade de hoje. Imagens sobrepostas que descasco em busca daquele momento em que o riso cristalino cortou o sol da manhã. Era um verão. O primeiro biquini ia passear na areia, junto com o baldinho e a pá. O calor era capaz de fritar os pés, mas não àquela hora do dia. Chapéus, óculos, água. A meio caminho ficava a árvore, debaixo da qual se descansaria após o passeio de bicicleta e de onde se vê o mar quebrar incansavelmente na pedra. Ainda está lá. O que terá feito o mar à pedra durante todo este tempo? Não existe mais a calçada que sofria com as rodas dos patins embalados pelo vento noturno. Bifurcou-se, mudou de curvas, ganhou uma rua e perdeu o banco onde sentados sonhamos. A brasa que fervia o óleo que fritava o acarajé traçou um arco, desgarrando-se do balanço da sombra dos galhos entrelaçados. Espalhou-se no meio da praça. E os filhos sentem o gosto do dendê, observando as moças que passam, filhas de outros passos que camadas antes estiveram ali e em breve levam netos a andar de velocípede. O constrói e desmancha dos circos, dos parques, dos palcos pulsa na areia, cada vez se inventando um adereço. O caminho até a escola parece tão mais distante agora. Na boca, o sabor da banana real que só quem comeu sabe. Viro a esquina e encontro com a aula de piano, com a curtição que era experimentar todos os sons logo que a professora se afastava. Os primeiros carnavais - mortalhas, caretas, fantasias, blocos, bandas, clube... músicas que não tocam mais. Sinto gosto de sal na mão. Dou-me conta de que estivera contando ondas por horas e ainda não havia percorrido metade das paredes da memória. Esta, como um grande mural de mim mesma, expunha-me à visitação. Caótica, embaralhada, mosaico de Tempos, que sentam juntos à hora do almoço fazendo a maior algazarra; projetam-se no espaço sobre a cidade visível, e apertam-me os olhos tentando reconhecer os traços dos transeuntes. Cartões postais, fotografias, fragmentos de vozes boiando no interstício entre os neurônios e preservados em impulsos elétricos, que vez por outra me dão um choque na base da nuca. Fazem isso só para me recordar de ajustar o foco e registrar novas imagens. Cheiros também. Cheiros são importantes, como o perfume que usava outro dia e que o deixava... não, não era outro dia. Rio, pensando que a cozinha daquele apartamento tinha um sentido totalmente diferente para você. Faço sinal para que a menina me leve até o outro lado, enquanto me ajeito na cadeira. Fico feliz por lembrar e por esquecer.


(Iêda Lima)
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Imagem - montagem a partir de foto do clipart do powerpoint

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Blogagem Coletiva - "O livro da minha vida"


Depois de um longo intervalo, mudança de cep e outras coisitas, volto a publicar meus escritos aqui. O convite da Vanessa (blog Fio de Ariadne) para participar da blogagem coletiva sobre “O livro da minha vida” fez com que eu lembrasse da minha infância e de ir para a biblioteca da escola na hora do recreio para ler a coleção de contos infantis com as estórias de Andersen, Grimm, Perrault... Até hoje me encantam a Polegarzinha, o Soldadinho de Chumbo, a Vendedora de Fósforos, Branca de Neve, o Gato de Botas, João e Maria, o Flautista de Hamelin, Rapunzel, Chapeuzinho Vermelho, a Roupa nova do Imperador, o Patinho Feio... Na verdade, o encanto por essas estórias começou mesmo antes de aprender a ler, quando fui com minha mãe visitar uma amiga dela. Os filhos dessa amiga me deixaram com um livro bem encadernado, colorido, e fiquei bastante tempo ali olhando aquelas figuras, imaginando as estórias que elas contavam. Mas o mistério só foi resolvido tempos depois, na biblioteca da escola. Além desses clássicos dos contos infantis, eu tenho muito carinho por um outro livro da minha infância: “O menino do dedo verde”, de Maurice Druon, que conta sobre um menino chamado Tistu e seu dom de fazer nascer flores onde coloca o dedo. Ele muda a vida das pessoas. A fábrica de canhões torna-se uma fábrica de flores, e a cidade de Mirapolvora passa a se chamar Miraflores. O jardineiro Bigode é seu conselheiro e Tistu terá que lidar com sua morte. Fiquei com saudade quando acabou. Outros livros também deixaram suas marcas, mas estes têm um lugar especial.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008


O barulho da porta batendo ainda ecoava. Havia tentado esquecer aquela cena, mas os detalhes insistiam em se gravarem na memória, repetindo-se e repetindo-se, pesando sobre o acelerador. Por que, tantas vezes, um olhar atravessado, uma fagulha mínima, acabava em um turbilhão? Ficava se perguntando o que havia feito de errado. Afinal, não proporcionara sempre o melhor? Queria tanto que pudessem conviver em paz! Mas não, eles nunca estavam satisfeitos, por mais que ela se esforçasse, por mais que ela deixasse de fazer para si... Estava cansada de tudo aquilo. O que importava era a marca!

Parou o carro no sinal e examinou o outdoor. Quem sabe não era isso que ela precisava? Umas semanas em um spa (sim, isso mesmo, se-ma-nas!!) e depois... ah, depois faria como Shirley Valentine, iria para a Grécia e até nunca mais... Riu balançando os cabelos, eles não acreditariam. Acelerou novamente e agora estas novas idéias é que não lhe saíam da cabeça. Vinha economizando para dar a eles alguma coisa importante...

Havia quase uma hora que rodava à toa pela cidade, caraminholando esses pensamentos. Estacionou, bateu a porta do carro resoluta: daquele dia em diante, o jogo seria outro.

(Iêda Lima)

Imagem obtida do clipart do powerpoint.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A ausência...



Perturba
se não notas

Machuca
se não sentes

E ela está ali
no canto da sala
condensando o vazio

(Iêda Lima, 2007)


Imagem obtida do clipart do powerpoint.